sábado, 6 de fevereiro de 2010

Mais uma de Arnaldo Jabor!

BORDÉIS DO AMOR
Assim, creio que a revolução se deu mais por via das mulheres, do que dos homens. Já repararam como tem garoto-objeto casando com coroas-célebres? E dizem que dinheiro compra até amor verdadeiro... Elas mudaram, desde a pílula até hoje, impulsionadas pela tecnologia veloz, pela indústria das revistas pornô; houve uma fetichização das partes pelo todo. São pedaços que vemos. O conjunto nos angustia. Disse-me uma antropóloga linda outro dia que o que mudou foi a transformação do sexo em ginástica, num atletismo em que as perversões proibidas se transformaram em brincadeiras polimorfas. Ninguém peca mais. E a culpa? O que foi feito dela? O limite é o quê? A morte? A aids segurou um pouco a barra da loucura que se anunciava nos anos 80, mas agora, com oquetéis, há um recrudescimento da sacanagem como parque de diversões.
As famosas surubas de antigamente (oh... crime nefando...), hoje são cirandas-cirandinhas felizes e gargalhantes. O bom e velho orgasminho não basta mais. É preciso ir mais longe. Até aonde? Talvez, busquemos um êxtase permanente num mundo que se aquece, num presente enorme que não acaba. Precisamos de uma libertinagem constante, já que a tal da liberdade era mesmo 'uma calça velha e desbotada'... E que orgasmo é esse que atroará os ares? E, falando mais seriamente, que transgressão suprema acabará com todos os limites? Muhammad Atta, o chefe do ataque no 11 de Setembro, segundo artigo antológico de Martin Amis, não era religioso, não acreditava em Alá, não era militante político, era químico na Alemanha e, no entanto, queria algo supremo. O quê? A realização do inominável, do impensável, o crime absoluto e, por segundos antes de explodir, ele sentiu o êxtase do tenebroso.
O marquês de Sade desafiou os limites da natureza. Nesta neo-libertinagem, queremos ir além das coisas que viramos. Há um desejo de aperfeiçoar os desempenhos, como se moderniza um avião ou um chip. Nas casas de swing, por exemplo, há uma utopia de se atingir uma paz além do ciúme, além da posse, a paz da solidão compartilhada, um companheirismo pacífico entre putas e cornos.
No entanto, faço uma previsão. As coisas vão e voltam. Dentro em pouco, vai ressurgir uma onda romântica, diante do terror que a liberdade total está gerando. Dentro em pouco, teremos amores infinitos, beijos eternos, fidelidades sem-fim. No entanto, onde se aninharão os casais? No campo? Nas neves derretidas? No pó das cidades? Onde? Não temos onde amar. Não há casulos disponíveis. Famílias, lares?
Não. Haverá talvez bordéis românticos, motéis da paixão, onde a paz infinita irá além dos gritos de tesão.
Ninguém agüenta mais tanta liberdade...
Este artigo parece aqueles textos apócrifos que espalham em meu nome, na internet. Mas, podem botar que eu confirmo. Santo Deus, estou sendo influenciado por meus imitadores...

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