sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ao homem-objeto

Coisas de Arnaldo Jabor, crônica publicada no jornal O Estado de São Paulo em 17/04/07 faz a análise minunciosa de como nós, mulheres, olhamos os homens hoje. 

Antes, os homens, desejávamos a mulher. Hoje, queremos ser desejados. No tempo de meus pais, elas em geral não davam: só casando. Nelson Rodrigues conta que os noivos galopavam como centauros para o quarto nupcial avançando sobre as noivas pálidas de terror.
Filho dessa geração, eu achava que o desejo da mulher era 'conseqüência do nosso, que elas ansiavam por nosso assédio, em delíquios desmaiados.
Eu achava que levar uma mulher para a cama era algo só de minha responsabilidade, que elas cumpriam cabisbaixas, trêmulas e, depois, gratas. Elas 'davam' como uma tarefa quase política. Hoje, os homens é que dão. Elas comem. Os homens se raspam, para ficarem com o corpo feminino. Os homens malham, para ficarem magníficos objetos de prazer. Antes, não. Eram barrigudos informes, sórdidos, com lindas damas ao lado, brutais machões dominando ninfas. Hoje, elas escolhem: 'Aquele ali. Vou comer...' Somos analisados minuciosamente nas conversas dos vestiários. Dizem-me informantes traidoras que o papo é mais brutal que conversa de marinheiro. Os pintinhos são analisados com régua e compasso. A barriga derruba um apaixonado, a bunda (isso é novo) passou a ser um objeto sexual fundamental para as moças: 'Que bundinha ele tem!' Nosso pobre feminismo deu nisso: as mulheres analisam os homens como imaginam que eram analisadas por nós: 'Que avião, eu ia te comer todinha...' Hoje, nós somos as caricaturas das caricaturas que fazíamos delas.
Fui educado pelos jesuítas, o melhor caminho para a perversão. Sempre imaginei as mulheres como usáveis, romanticamente ingênuas, ou santas ou decaídas... Mas nunca imaginei ver esse exército de rostos lindos, mas duros, implacáveis na avaliação do sujeito, nos olhando como sargentos examinando recrutas. Não imaginava o medo diante da glamourização excessiva das celebridades. O que nos excitava, ou melhor, nos fazia apaixonados era ver em seus olhos a busca de proteção, quase um apelo de socorro. Nossa virilidade era quixotesca, salvadora. Sua fragilidade, mesmo fingida, era tão erotizante... Outro dia vi um documentário antigo com a Jackie Kennedy falando; parecia uma menininha, uma 'barbie' ingênua. Claro que não me refiro às pobres desamparadas socialmente; falo das peruas de esquerda e de direita (elas existem...), falo da vanguarda das gostosas. Transar com uma mulher hoje é passar por um teste. E surge a dúvida máxima: o que dar às mulheres? Carinho? Proteção? Porrada? Desprezo? Companheirismo? Dar o quê? Dinheiro? Já servimos para sustentá-las, mandar nelas: 'Oh, bobinhas... não é assim, é assado...' Mas, não sabemos mais o que oferecer. Diante disso, o amor vira uma batalha de prazeres e dores, uma guerra constante e excitante, ciúmes afrodisíacos, ódios excitantes para o 'make-up fuck' (a melhor que há). Os amores de /Caras /duram semanas; casou, perdeu a graça. Os jovens ricos vivem em haréns de luxo (ah, verde inveja...) Claro que o amor dos desvalidos continua igual: porrada, alcoolismo, e abandono.
Repito que falo das 'vanguardas' neo-sacanas.
PS: O que ele não sabe é que também olhamos mãos, braços, quanto mais forte, melhor !

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