sexta-feira, 2 de abril de 2010

Piaf - Um Hino ao Amor

Do instante em que deixa o ventre da mãe, a miúda pardalzinha tem OSCAR escrito na testa

Por Marcelo Hessel
Justiça seja feita, são grandes as chances de Persépolis, animação anti-fundamentalismo iraniano, ser finalista do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela França. Mas só pode ter sido falha de comunicação interna o país não escolher a cinebiografia de Edith Piaf para concorrer ao prêmio hollywoodiano. Do momento em que sai do ventre de sua mãe nas ruas imundas de Paris, a mirrada menina de olhos azulaços, que viraria uma das maiores cantoras de todos os tempos, já tem "OSCAR" escrito na testa.

Há filmes que não merecem ser reduzidos a um rótulo, mas neste caso é questão de defesa do consumidor dizer que Piaf - Um Hino Ao Amor (La Môme, 2007) é a típica cinebiografia pensada para comover os votantes da Academia. Como os recentes Ray e Johnny & June, a idéia é honrar o passado do músico sem feri-lo com releituras, transformar ator/atriz na reencarnação fílmica do biografado e vender muito CD de trilha sonora. O fato de Piaf - Um Hino ao Amor ser francês não faz, essencialmente, a menor diferença. Cinema sentimental é igual no mundo inteiro.

A ordem do diretor Olivier Dahan (Rios Vermelhos 2) é embelezar, em todos os sentidos. Planos-sequências em apartamentos de pés-direitos suntuosos, fotografia saturada diante do mar calmo, close-up na cantora na hora da nota mais alta, hiperdramatização das relações, música ininterrupta, maquiagens mil. Em Piaf todos são maiores que a vida, da meretriz-mãe ao pugilista galã, mas la môme piaf, a miúda pardalzinha, como Edith aprendeu a ser chamada, é ainda maior que todos.

Evidente que a trajetória de vida da intérprete não é como uma qualquer. Edith Giovanna Gassion foi nascer justamente quando a Primeira Guerra vitimava a Europa, em 1915, e cresceu em meio a bordéis e circos. Cantou em muita sarjeta para conseguir comprar seu almoço, e se teve a sorte de ser chamada um dia para gravar um disco é porque o mundo - que quase lhe tirou a visão e a vida quando criança - finalmente estava dando uma trégua a Edith.

Recebeu inúmeros prêmios e indicações mundo afora, incluindo o Oscar de melhor atriz principal e de melhor maquiagem. Bill Murray falou uma vez que nunca ganharia um Oscar porque as pessoas, por fazê-las rir, só lhe davam um obrigado; para ser premiado é preciso fazê-las sofrer.

Costuma-se dizer também que boas biografias desmistificam o biografado e abrem lacunas para que o espectador enxergue aquele ídolo como ele realmente é, ou era. O problema de Piaf não é o over-acting, a extrema mistificação. O problema é que o filme não dá a essa formidável figura, cercada dos mimos do "alto cinema", sequer o direito de ser mundana.

Sinopse
Nascida no bairro de Belleville, em Paris, Édith Giovanna Gassion demorou a conquistar prestígio como cantora em seu país. Após vários anos na estrada, acabou sendo descoberta por um caça-talentos que lhe apelidou de La môme Piaf (pequeno passarinho, em francês) e lhe deu a oportunidade de cantar em alguns cabarés bem frequentados. Sua voz conquistou Paris e rapidamente Édith Piaf passou a ser reconhecida por toda a Europa, região que vive desolada por um período de guerras.

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